Treinador brasileiro ganha R$ 1 milhão e meio na China
“Lo fu”, “Lo fu”, gritam jovens vestidos com a camisa laranja do Shandong Luneng, a nova sensação do futebol chinês. “Lo fu” é como sai na pronúncia local o nome do atacante brasileiro Vagner Love.
Torcedor-símbolo do time, o fanático e rechonchudo Wang Da Quan tem estampados na camisa os rostos dos reforços brasileiros.
Com megafone, repete os nomes na porta do Estádio Olímpico de Jinan, onde o Shandong Luneng se prepara para mais uma partida do campeonato chinês.
O atacante Aloísio, ex-São Paulo, é conhecido como “Ye Niu” (búfalo selvagem, versão chinesa para boi bandido), o técnico Cuca é “Cu Cá” e o volante Júnior Urso, ex-Coritiba, virou “Wu Suo”.
Enquanto os torcedores chineses dobram a língua e reinventam os nomes de seus novos ídolos, os brasileiros se desdobram para traduzir os segredos da bola aos chineses. Tarefa árdua, movida a muito dinheiro.
Salários milionários
Atraída por salários milionários, uma legião de brasileiros nunca vista na China desembarcou há poucos meses em Shandong.
A província, no sudeste do país, é conhecida por ser a terra natal do filósofo Confúcio e o local de origem da primeira versão do futebol, há mais de 2.000 anos.
Mas o que interessa aos dirigentes do Shandong Luneng é o futuro, e eles têm pressa em ver resultados.
Propriedade de uma estatal de energia elétrica, o time foi o que mais investiu nesta temporada do futebol chinês, mais de R$ 80 milhões de reais.
“Não tem xingamento, nem torcedor querendo nos bater em aeroporto, mas quando há um tropeço sou chamado para uma conversa com o chefão. Não tem essa história de paciência oriental”, diz o técnico Cuca.
O treinador compara o investimento feito hoje pela China ao que ocorreu nos anos 1990 no Japão, quando a chegada de Zico e outros brasileiros marcou a ascensão do futebol do país.
Das preleções às broncas na beira do gramado, Cuca e os demais preparadores dependem de um tradutor para tudo. Mas a maior dificuldade é ensinar aos chineses a malandragem brasileira.
Sem malícia
“Eles são muito tímidos”, diz Cuca. “E falta malícia. Não sabem ganhar uma falta, só caem quando a porrada é muito forte”, conta.
Há três meses no cargo, Cuca já é alvo de críticas da imprensa local, que questiona se ele vale o salário mensal de R$ 1 milhão e 500 mil reais, considerado o mais alto já pago a um treinador brasileiro.
A expectativa está à altura do investimento. No contrato de Cuca, cláusula estipula que o clube deve ser campeão mundial interclubes até 2016. Ou seja, fazer o que o treinador não conseguiu com o Atlético Mineiro em 2013.
Redação Futebol Bauru
22/04/2014.