Portuguesinha: romantismo e singeleza no 26º encontro
Uma das formações da Portuguesinha em 1960. Da esquerda para a direita em pé: Gandola, Chiquinho, Carlinhos Menezes, Volnei, Negão e Maurinho Chuchu. Agachados: Zé Carlos Tentor, Paulo Sérgio, Carlinhos Turco, Zequinha e Toninho Tatu.
Pelo 26º ano a Portuguesinha que deixou legado de história à época do futebol romântico, na década, irá reunir seus ex-jogadores, dirigentes e, notadamente seus simpatizantes.
O encontro está marcado neste sábado, a partir das 9h30, para quem disputar o jogo de confraternização, no Clube de Campo, da Associação Luso-Brasileira de Bauru.
Duas homenagens
Neste ano duas homenagens serão prestadas. Uma para Cleuto Cordeiro, pela dedicação e companheirismo ao longo de tantos anos junto à coletividade lusa.
Cleuto não construiu sua história na Portuguesinha dentro de campo, nem fora dele esteve intimamente ligado ao futebol, mas é personalidade forte da equipe de retaguarda, da logística nas festas dos encontros anuais e das várias reuniões da Portuguesinha.
Seu espírito de solidariedade, sua amizade sincera e sua dedicação justificam o tributo que receberá neste sábado.
A outra homenagem é para um ícone do futebol em Bauru: José Carlos Coelho, ou simplesmente Zé Carlos. Um dos maiores jogadores que já passaram pela cidade.
Zé Carlos veio da Portuguesa Desportos para o Noroeste no início da década de 60 e foi um dos grandes ídolos ao lado de Toninho Guerreiro, Batista, Gélson, Maneca, Leal, Gualberto, entre outros.
Depois de deixar o futebol profissional Zé Carlos também vestiu a camisa da Portuguesinha na então Várzea de Bauru.
E homenageando Zé Carlos, a Portuguesinha homenageia também o próprio EC Noroeste pelos seus 100 anos de vida, comemorados em 1 de setembro passado.
Deverão prestigiar essa homenagem os ex craques do Noroeste: Gélson, Maneca, Gualberto e Aracito, que jogaram com Zé Carlos.
Bola rola às 10 horas
Está marcado para as 10 horas, no campo principal, o tradicional jogo entre as equipes Branca e Vermelha, reunindo os ex jogadores e todos aqueles que ainda conseguem correr atrás da bola.
Em seguida a festa de confraternização com muita cerveja gelada, churrasco, porco no rolete e muito papo sobre os velhos tempos, matando saudades, rememorando a saudosa Várzea de nossa cidade.
Um pouco da Portuguesinha
Para uma idéia a respeito da Portuguesinha, abaixo relacionamos trechos do livro: “Portuguesinha - Um Futebol Diferente”, do professor João Batista Campagnani Ferreira.
“Acredito que a coincidência seja a explicação para a formação de um grupo tão fantástico, como foi o da Portuguesinha. Foi à reunião de tantos talentos, num determinado momento histórico e num determinado espaço geográfico.
A fusão daquelas equipes infantis já mencionadas (São Paulinho e Botafoguinho) e a oportunidade repentina, com o desmanche da Portuguesa adulta, resultaram no surgimento de uma agremiação que viria encantar as mais diversas platéias da Várzea bauruense.
Seu pedaço de chão, seu campo de jogo, passava a ser naquele início da década de 60, um terreno nos fundos do emergente bairro do Jardim Estoril. Era um campo de terra, com desnível para a esquerda, sentido bairro/cidade, onde acumulava uma areia terrível.
Zinho fazia zagueiro patinar
Era o canto favorito de um negrinho mágico, chamado Zinho, que com seus dribles desconcertantes, literalmente flutuava com sua leveza e habilidade, onde os zagueiros adversários patinavam e ficavam para trás.
Apesar de toda adversidade das condições do campo, que não era uma exclusividade daquele local, os meninos da Portuguesinha jogavam com desembaraço e alta qualidade técnica. Era um prazer assisti-los.
Como o time quase todo era juvenil, os treinos eram realizados às quintas feiras, a partir das 17 horas e não nos sábados à tarde, tradição entre todas as outras agremiações varzeanas, por causa do horário de trabalho.
Sob a batuta do técnico Nêne, e não Nenê, o time luso praticava um futebol de alto nível e, apesar de sua torcida diminuta, porque não era de um grande bairro, como Bela Vista, Vila Falcão, por exemplo, sempre teve a admiração de torcedores também de outros clubes.
Jogando em casa ou fora de seus domínios a Portuguesinha não decepcionava. Jogava seu futebol limpo, sem pancada, dava show de bola. É verdade que nem sempre ganhava, mas nunca desapontava.
Era preciso ter vivido
Para entender o que acontecia é preciso ter vivido de perto aquela época. O campeonato varzeano era comandado pela LBE - Liga Bauruense de Esportes - e possuía dezenas de equipes, que representavam vários bairros da cidade.
Havia muitos times fortes, com jogadores experientes, alguns ex- profissionais. O nível técnico não era ruim e o jogo era bem violento, especialmente em alguns campos da cidade.
Torcidas fanáticas, violentas às vezes, acabavam intimidando equipes jovens e com pouca torcida, como era o caso da Portuguesinha. Os torcedores ficavam alinhados ao redor do campo de jogo, atrás das laterais e dos gols, especialmente do goleiro adversário. A pressão em alguns locais era muito grande.
A década de 1960 praticamente foi dominada pelo Fortaleza, da Vila Falcão, um time muito forte. Além de DER, Internacional, Fluminense, Marabá, Sanbra, Banco de Crédito e outros.
Mas a Portuguesinha geralmente ficava entre os quatro primeiros colocados e se classificava assim para o Quadrangular da ACEB -Associação dos Cronistas Esportivos de Bauru, extinta em meados da década de 1980.
Muitos craques, afastados
A maioria de jogadores que passaram pela Portuguesinha na década de 60, foram garotos excepcionais. Quase todos poderiam ter sido profissionais, não fossem as circunstâncias normais da vida, que nos levam a caminhos, os mais diversos.
Naquele tempo os pais também não gostavam que seus filhos fossem jogadores de futebol.
Arrumar emprego fixo, carteira assinada, direitos garantidos, era uma prioridade. Jogador de futebol ainda não era o que se poderia chamar de uma profissão naquele tempo. Isso afastou muita gente boa do futebol profissional.
Ainda assim a Portuguesinha levou muitos atletas para o profissionalismo e o semi-profissionalismo, que era o Amador Regional.
Assim o goleiro Chiquinho, o central Otacílio e o meia Zequinha foram para o Noroeste. Chiquinho foi goleiro titular por anos e ainda atuou no Linense, Garça e mais uma série de times profissionais.
Nenê no São Paulo
O volante Nenê Boteco foi para Piraju e daí para o São Paulo, onde jogou como titular ao lado de Roberto Dias e outros craques. O meia esquerda Osmar foi para o Garça e depois para o Corinthians.
O também volante Sagres foi para o Noroeste, atuando como titular e com muito destaque. O talentoso atacante Jonas jogou no Linense, com Leivinha e Moacirzinho, que também passou pela Portuguesa.
O lateral direito Maurinho Chuchu, o lateral esquerdo Negão, o ponta esquerda Zinho, o goleiro Xexa e outros foram para clubes amadores importantes da época. Sagraram-se campeões da região pelo Itapuí.
É bom ressaltar que estou falando dos jogadores da Portuguesinha de raiz, daqueles meninos mágicos que vieram do Botafoguinho, Noroestinho, que corriam descalços ali em frente ao velho estádio do Noroeste, onde hoje é o Hospital de Base.
O grande time
Gostaria de escalar o time, talvez o mais maravilhoso, que a Portuguesinha já colocou em campo e, em algumas posições, citarei mais de um jogador, para fazer justiça.
À moda antiga, para corresponder à época: Chiquinho; Maurinho Chuchu, Otacílio, Carlinhos Menezes e Negão; Toninho Tatu e Zequinha; Zé Carlos Tentor, Volnei, Jonas e Zinho.
A Portuguesinha era uma fábrica de talentos no meio campo. Ainda atuaram brilhantemente nesse setor: Nenê Boteco, Vicentinho, Sagres e Hudson.
Na defesa os zagueiros Leal e Nonô, o lateral Gandola, o “coringa” Bita, que atuava em várias posições. No ataque Esmil e seu irmão Eloi, Pedasur, Duílio, Luizinho, Miltinho, Paraná, Lia Tentor, Betinho, Carlinhos Turco, e tantos outros, que perdoem o esquecimento.
Um tiro e só saudade...
Aquele mito vermelho e verde, aqueles meninos atrevidos, aquelas jogadas de tirar o fôlego, foram desaparecendo e, embora alguns de seus atletas fundadores terem voltado a jogar na já “velha” Portuguesinha, não conseguiram resgatar aqueles anos de sonho e magia e nem seria possível.
A morte trágica, num acidente com uma arma, do técnico Nêne, também tirou do cenário o grande líder, o guru daquela meninada, em torno do qual giravam todas as coisas, fossem do futebol ou não.
Aqui cai bem aquele velho adágio: “quem viu, viu...”. Sabemos que os campeonatos amadores de Bauru têm sido elogiados pelo bom nível do futebol apresentado e boas competições têm levado grande público aos estádios, mas, com certeza nada parecido com o fenômeno Portuguesinha”.
Paulo Sérgio Simonetti, com colaboração de Erlinton Goulart, especial para o Futebol Bauru
23/11/2010.
26º Encontro da Portuguesinha
Local: Luso de Campo, sábado, a partir das 9h30
Adesão: R$ 15,00 reais, com bebida à parte
Jogo: Quem for jogar deve levar calção branco e meias brancas e chegar às 9 horas
Informações: Maurinho (14-3227 8515)
Sarará (14-3223 7014 - 3879 5016)
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